Uma visão sistêmica: resposta à crítica sobre a Câmara e a Biblioteca
Por Pedro Américo Lopes – professor e vereador
Minha defesa é pelo fortalecimento da Biblioteca Municipal Arnold Ferreira da Silva e pela melhor utilização do seu conceito e da própria Câmara Municipal. Nunca defendi o fim da biblioteca nem a sua substituição por algo apenas digital, nem uma troca de prédios de qualquer forma. Quem afirma o contrário desconsidera o sentido da proposta que apresentei e reduz um debate de cidade a uma caricatura.
A crítica publicada pelo Conectado News parte de um valor que eu também reconheço: a biblioteca, instalada no centro por décadas, é marco de identidade cultural e espaço de memória coletiva; a Câmara é casa do debate público e da representação política. Trocar endereços, diz o autor, seria “confundir funções” e “alterar identidades”. Tomo a apreensão como legítima. Respondo com a mesma seriedade: a proposta de permuta nunca pretendeu esvaziar símbolos, mas reorganizar usos para qualificá-los.
A biblioteca, no circuito de memória do centro, poderia integrar acervo, mediação e roteiros educativos; a Câmara, em sede apropriada, poderia oferecer plenário, salas de comissões e acolhimento à participação, algo que o prédio atual já não comporta com qualidade. Além disso, o próprio debate institucional sobre a insuficiência da sede legislativa está colocado na cidade, com propostas oficiais para nova casa do Parlamento, o que reforça a necessidade de soluções de médio prazo que transcendam reformas pontuais. 
Há um dado objetivo que não pode ser ignorado: a Biblioteca Arnold está fechada desde o fim de 2019. Isso foi reconhecido publicamente em diferentes momentos, inclusive com previsão de entrega e anúncios recentes de fase final de obras e parcerias técnicas para qualificar acervos e bibliotecas. O acervo foi parcialmente remanejado para espaço provisório, mas a cidade segue sem o equipamento funcionando em plenitude. O fato de termos passado anos sem a biblioteca plenamente aberta deveria nos convocar a ir além do “onde” e encarar o “para quê” e o “como” ela reabrirá. 
Minha resposta não é nostálgica nem utilitarista. É sistêmica. Defendo biblioteca como plataforma pública de conhecimento, com mediação pedagógica diária, acervo físico protegido e usado, acervo digital que amplia acesso, orientação para concurseiros e estudantes, programação infantil contínua, acessibilidade universal e tecnologia que respeite a privacidade. Defendo também que chegar e permanecer seja seguro e simples, com calçadas contínuas, travessias sinalizadas, integração com ônibus e ciclovias, bicicletários e iluminação adequadas. Sem ignorar a simbologia do edifício, proponho cuidar do que acontece dentro dele. Biblioteca viva se mede por gente dentro, estudando, pesquisando e participando.
Dizer que “biblioteca não é prédio, é patrimônio emocional e intelectual” é correto. É exatamente por isso que reprogramar missão, curadoria e rotinas importa mais do que fixar a placa na fachada. O mundo mudou, o acesso remoto se expandiu, e as bibliotecas que prosperam combinaram silêncio para estudo com espaços de encontro, mentoria de leitura e ferramentas digitais. Negar essa transformação é condenar a biblioteca a virar vitrine. Reconhecê-la é recolocar a leitura no centro da vida da cidade. A permuta foi apresentada como um caminho possível para organizar funções urbanas e educacionais; a Prefeitura optou por manter a biblioteca no endereço atual e seguir com a revitalização. Respeito a decisão e, a partir dela, proponho que a reabertura seja um marco de serviço, não apenas de obra, com conselho gestor plural, transparência sobre calendário e metas, e pactos de uso que protejam o silêncio de quem estuda e a participação de quem aprende. 
Quanto à Câmara, não há afronta à sua identidade. Há realismo sobre suas necessidades. A Casa da Cidadania precisa funcionar em plenitude, comissões permanentes ativas, Escola do Legislativo viva e infraestrutura para acolher a sociedade. O próprio debate recente na imprensa local admite que o anexo parou, que auditorias não avançaram e que uma nova sede pode ser a alternativa mais responsável. Isso não diminui o valor do prédio histórico. Ao contrário, permite destiná-lo à memória viva da democracia, com acervos cívicos, visitas escolares e programação educativa. 
Reconheço, portanto, três coisas ao mesmo tempo. Primeiro, a força simbólica da biblioteca e da Câmara nas suas trajetórias. Segundo, o hiato de funcionamento pleno da biblioteca e a urgência de reabrir com missão atualizada. Terceiro, a insuficiência estrutural do Legislativo para um parlamento mais poroso e participativo. A minha visão propõe integrar, não antagonizar. Propõe que a biblioteca retorne mais forte, com livro físico protegido e mediação cotidiana, e que a Câmara tenha condições de exercer seu papel com dignidade e transparência. Propõe, ainda, um eixo de memória e cidadania ligando biblioteca, arquivo e paço por rotas caminháveis, com programação articulada que faça sentido para quem circula no centro e para quem vive nos bairros.
A crítica do Conectado News, ao alertar para riscos de “troca de identidades”, presta um serviço ao lembrar que símbolos importam. Eu acrescento que políticas públicas importam ainda mais quando garantem uso qualificado, acessibilidade e presença cotidiana de leitores e cidadãos. É possível preservar e inovar ao mesmo tempo. É possível honrar a Casa do Saber e fortalecer a Casa da Cidadania. O que não é possível é aceitar uma cidade onde a biblioteca volta a abrir sem gente dentro e onde a Câmara segue comprimida e distante da vida real. Esse é o debate de fundo que proponho, com dados públicos, com escuta e com coragem para decidir. 
Em síntese, a proposta da permuta foi um instrumento de planejamento, de reflexão, manter os espaços Câmara e Biblioteca onde estão e como sempre funcionaram ajudam a cidade? Seu uso está sendo real ou apenas simbólico ? Como é o que poderia ser feito para melhorar esses espaços para que as pessoas usem elas em plenitude?
A Prefeitura decidiu por outro caminho, não abrindo o debate para a permuta, e eu o respeito.
A minha defesa permanece a mesma: biblioteca viva, leitor acolhido, memória ativada, serviço público funcionando,
Parlamento à altura do século em que vivemos. É assim que se cuida da história e se constrói futuro em Feira de Santana.




