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Feira de Santana Cegonhas da Noite

Conheça a história de Lausanne Vicentin, deixada na porta de seus pais adotivos pelo Cegonhas da Noite e a busca por seus pais biológicos

Feira de Santana

18/03/2025 16h39 Atualizada há 19 horas
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Conectado News
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Por Luiz Santos e Hely Beltrão

Em Feira de Santana, entre as décadas de 80 e 90, um grupo de mulheres denominadas "Cegonhas da Noite" entregavam crianças abandonadas, na calada da noite, para famílias que as desejavam criar. De acordo com reportagem do Jornal A Tarde, publicada em fevereiro de 2006, em 20 anos de atuação, 1.100 crianças recém-nascidas foram entregues pelo grupo a lares adotivos, e segundo uma das integrantes entrevistadas, o trabalho foi interrompido em 2003, após um juiz do município ameaçar prender quem fizesse parte do grupo.

Nas redes sociais, Lausanne Vicentin, 35 anos, gravou um vídeo viral, onde ela diz ter sido uma dessas crianças entregues pelo Cegonhas da Noite e está a procura de seus pais biológicos. Na manhã desta terça (18), ela contou sua história aos ouvintes do Programa Levante a Voz, da Rádio Sociedade News FM.

 
 
 
 
 
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"A minha história é igual a de muitos feirenses e brasileiros mundo a fora, fui colocada na porta da minha mãe adotiva no ano em que nasci, 1989, o projeto Cegonhas da Noite estava sendo desenvolvido em Feira de Santana, aconteceu que fui colocada na porta da minha mãe que que me criou, uma professora hoje aposentada, e partir disso foi quando começou a minha história de vida como filha adotiva".

"Fui deixada na casa da minha mãe adotiva ainda com o cordão umbilical em cicatrização"

"Há algumas controvérsias, minha mãe disse que me encontrou na porta de sua casa com três dias de nascida, porque o cordão umbilical ainda estava em processo de cicatrização, porém, no bilhetinho que foi deixado junto comigo, dizia que eu tinha um mês de vida, por isso, não sabemos ao certo. Fui deixada no período da tarde, uma mulher ligou para a escola onde minha mãe trabalhava, o Instituto de Educação Gastão Guimarães (atualmente Instituto de Educação em Tempo Integral Gastão Guimarães), onde essa mulher perguntou a que horas ela retornaria para casa, a funcionária disse que por volta das 12h, nisso, poucos minutos depois que minha mãe chegou em casa, a campainha tocou e o presente estava lá, eu".

Sobre o projeto

"Pelo que minha mãe conta, houve um momento de descontração entre essas professoras que trabalhavam no Gastão, onde foi levantada essa questão de que tinham deixado, pois na época estava em alta essa questão, deu todas as minhas características de quando eu era pequena, foi quando minha mãe foi disse: “nossa, seria tão maravilhoso se deixassem, queria tanto, até para não criar o meu irmão, sozinho, que na época tinha 4 meses de nascido, porque já tinha criado a mais velha sozinha, teve esse período grande, minha irmã hoje tem 51, estou com 35, foi o espaço de tempo que ela teve de um para o outro bem grande. Quando contou essa história, automaticamente eu surgi em sua vida, tive contato com algumas pessoas que fizeram parte do projeto Cegonhas da Noite, que me contaram não existir essa questão prévia, de ir lá e manifestasse o interesse em uma criança, se a família sinalizasse para alguma dessas mulheres que fazem parte do grupo, quando surgiam essas crianças, por conta de questões sociais ou quando a mãe não queria, entregava-se para adoção e elas colocavam nessas portas indicadas anteriormente".

"Não tenho traumas, só um vazio"

"Trauma não, só um vazio de querer saber de onde pertence, de onde saiu, olhar no rosto das pessoas na rua e tentar identificar se é minha mãe, irmão, nada que tenha me afetado muito na infância e adolescência".  

Como ficou sabendo que era adotada

"Uma babá que nos cuidava quando minha mãe saía para trabalhar, um dia, quando eu tinha 7 anos,  fiz birra e disse que não ia tomar banho, nisso ela disse: você não vai tomar banho? Sabe porque você não gosta de tomar banho? Porque você foi achada no lixo. A partir disso, ficou na minha cabeça durante o dia todo, esperei minha mãe chegar do trabalho e perguntei a ela sobre o que a babá falou de ter sido achada no lixo. Nisso, minha mãe com toda cautela possível, me chamou e disse: “quem disse que você não é minha filha, porque você teria que sair da minha barriga?” Ela soube contornar a situação e me contou que de fato não era filha que tinha sido gerada no ventre, mas no coração dela e de Deus, e por isso Ele tinha me colocado em sua vida. Na hora chorei, fiquei sem entender, mas com o passar do tempo, as coisas foram se tornando normais para mim.

Relação com a família adotiva

"Minha relação com meus irmãos é normal, brigávamos, mas nada fora do normal, minha irmã mais velha mora em Curitiba/PR, aos 17 anos fez um concurso e foi morar lá, porque a família da minha mãe que me criou é toda do Sul do país, no estado do Paraná, costumo brincar com minha mãe que ela só veio para cá para ter a mim e ao meu irmão".

Pistas sobre os pais biológicos

"Essa amiga da minha mãe na época, em uma oportunidade de estar com ela, disse para minha mãe que eu sou filha de uma empregada doméstica que trabalhava na casa de uma enfermeira do Hospital Mater Dei, e para não perder a mão de obra da minha mãe, fui dada para adoção. Soube que além de mim, existiam cinco meninas que também seriam filhas dela, ou seja, havia um acúmulo de crianças, por isso, fui dada para adoção. A família dos meus pais biológicos vieram de São Paulo para pegar minha mãe e minhas irmãs para levar, foi quando eles procuraram saber, sendo informado para eles que eu tinha sido doada para uma família em Recife/PE, nisso, eles acharam que não tinha como procurar e retornaram para São Paulo. 

Lausanne também conta que a sua mãe adotiva a está ajudando na busca

"Tentei, mas não obtive sucesso, procurei também nos endereços que foram passados para mim, minha mãe e eu, em todos os meios possíveis, por isso, a ideia de fazer o vídeo, onde através dele, encontrei outras pessoas na mesma situação. Fiquei muito feliz de conhecer histórias de outros, que assim como eu, foram deixados na porta dos seus pais de criação, pessoas fantásticas que tiveram uma vida de sucesso, alguns percalços emocionais, algo normal, mas na questão adotiva temos aquelas questões da rejeição, pertencimento, saber de fato quem somos, para onde vamos".

Lausanne conta que faz parte de um grupo de Whatsapp de pessoas que enfrentam a mesma situação que ela, onde uma delas, já conseguiu encontrar os pais biológicos.

"Uma pessoa em nosso grupo de WhatsApp conseguiu sim ter contato com os pais biológicos, mas isso só foi possível porque ela tinha uma pista que pudesse levar até eles, porém, no meu caso e de outras meninas que me procuram no Instagram, não temos algo concreto, apenas suposições, as únicas informações precisas que tenho são referentes ao meu nascimento no Hospital Mater Dei, e que fui deixada na rua principal do bairro Parque Ipê, na Rua Arco Verde, 870, onde minha mãe adotiva mora até hoje. Na época era algo comum, quando não se tinha condições, hoje sendo mãe consigo entender melhor essa questão, porque os pais não vão querer ver seu filho passando por necessidades e situações que poderiam ser  evitadas", concluiu.

Confira em nosso podcast abaixo a entrevista completa.

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EDSON DAS VIRGENS TELESHá 19 horas Feira de SantanaEu cheguei a conhecer uma das lideranças da segoinha da meia noite a qual está em outro plano espiritual,ela também adotou um menino chamado Carcio . Tem outra pessoa que também tem um filho da segoinha da meia noite que |eu conheço , o menino já casou e está muito bem , estudou no CSA do frades .
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