Por Hely Beltrão
De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, somente em 2024, foram registrados 472.328 afastamentos do trabalho por conta de problemas de saúde mental, o maior número em pelo menos dez anos, um aumento de 68% em comparação ao ano de 2023, com 283.471.
Ao Conectado News, a Psicóloga Clínica e Técnica em Segurança do Trabalho, Erica Cardoso CRP03/26651, chamou atenção para as principais causas, conclamou as pessoas a não abrirem mãos dos seus direitos e a priorizarem a sua saúde mental.
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"Quase meio milhão de pessoas tem sido afastadas do seu ambiente de trabalho por conta de problemas de ordem psicológica, segundo o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), esses índices são os maiores em 10 anos, ou seja, os transtornos mentais estão sendo a terceira causa de concessão de benefícios previdenciários por incapacidade do trabalho no Brasil. A OMS (Organização Mundial da Saúde) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) confirmaram através de publicação conjunta a necessidade de chamar atenção para essas questões e trazer esse debate à tona".
Importância do debate acerca da saúde mental dos trabalhadores
"Onde há fumaça, há fogo, não é à toa que esse ano as empresas serão obrigadas a se preocupar e estabelecer políticas, projetos, programas voltados à manutenção da saúde mental dos seus trabalhadores. Em maio passará a vigorar no Brasil uma regulamentação que tratará disso, onde serão estabelecidas novas diretrizes para tentar sanar esses riscos psicossociais à saúde do trabalhador. Diante desse cenário crítico, consegue-se visualizar a importância dessa discussão, para que possamos nos mobilizar a fim de prevenir os impactos negativos do trabalho e promover o bem-estar dos trabalhadores".
Principais fatores de risco no ambiente de trabalho
"Os profissionais da área de saúde mental elencam pelo menos quatro fatores de risco que contribuem para o estresse ocupacional nas empresas:
Trabalho de alta exigência: aquele ambiente de trabalho que tem uma alta demanda e pouco controle;
Trabalho de baixo apoio social: aquele onde as relações não são humanizadas, com cobranças muito rígidas;
Trabalho de alto esforço e baixa recompensa: ambientes de trabalho que exigem metas difíceis ou inalcançáveis, com uma recompensa que não vale a pena;
Excesso de comprometimento, cobrança e exigência daquele trabalhador, muitas vezes com permanência maior no trabalho, levando serviço para casa, o funcionário não descansa no trabalho e nem em casa.
A psicóloga também chama atenção para a falta de critérios do INSS, dificultando a assistência ao trabalhador.
"Para além disso, existe uma precariedade por parte da Previdência Social, devido a falta de critérios objetivos que estabeleçam o nexo causal, ou seja, aquele vínculo feito pelos peritos que vai autorizar e comprovar a relação da doença com o trabalho para que o benefício seja concedido, isso precisa ser estabelecido, há uma dificuldade enorme para que pessoas adoecidas por conta do trabalho, prejudicando o trabalhador e a promoção da saúde, tanto dessas pessoas, que acabarão pedindo demissão por não conseguir continuar no trabalho, enquanto outras que podem precisar de futuras indenizações. Outros problemas existentes são a falta de médicos no INSS, políticas públicas e assistenciais nesse sentido".
Doenças mais comuns no ambiente de trabalho
"Entre as doenças mais frequentes, temos a depressão, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico e alguns transtornos fóbicos (fobia social), onde a pessoa tem dificuldade de estar no ambiente com outras pessoas, tendendo ao isolamento".
"Não abra mão dos seus direitos"
"Até quando o trabalhador terá medo de ser considerado incompetente ou incapaz, devido a instabilidade emocional, por estar sendo obrigado a fazer tarefas sob pressão, forçando o seu psicológico até o limite? Por isso que existe a estabilidade no retorno, que lhe dá a garantia de 12 meses de permanência no trabalho, porque senão, seria demitido assim que retornasse. Leis são criadas quando princípios são quebrados. A minha orientação aos trabalhadores adoecidos mentalmente que lerem essa matéria é que busquem seus direitos e o cuidado com a sua saúde mental o quanto antes, procure profissionais da área de Psicologia ou Psiquiatria se for preciso, mas não deixem de cuidar da sua saúde mental, pois sem ela você não trabalha".
"Já senti na pele"
"Além de atuar como psicóloga clínica e técnica de segurança do trabalho, já vivenciei o outro lado, como a pessoa que passou por esses riscos psicossociais, o que me dá competência prática e teórica para te alertar sobre esse assunto. Concluo deixando uma frase do neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl: “Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”.
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