Por Lis Braga
O desrespeito a Daniela Mercury no Carnaval de Salvador levanta uma questão incômoda: se fosse um homem no lugar dela, a atitude de Tony Salles teria sido a mesma? A cantora, um dos grandes nomes da música baiana, foi pressionada pelo ex-cantor do Parangolé a acelerar e liberar passagem ao trio dele na madrugada da terça no circuito Barra-Ondina em Salvador. A cena, transmitida ao vivo, expôs não apenas uma falta de cortesia, mas um possível viés de gênero enraizado até mesmo na festa que celebra a liberdade.
É difícil imaginar Tony tendo a mesma postura diante de Bell Marques, Léo Santana ou Saulo Fernandes. Daniela Mercury não é apenas uma artista de renome internacional, mas uma das responsáveis por transformar a Axé Music no fenômeno que é hoje. A falta de respeito para com uma das mulheres que mais ajudaram a construir o Carnaval como o conhecemos, reflete um padrão conhecido: o espaço masculino é sempre garantido, enquanto o feminino - mesmo quando conquistado com talento e trabalho árduo - ainda precisa ser constantemente reafirmado.
O episódio reforça a necessidade de repensarmos como tratamos nossas grandes artistas. Não se trata apenas de um desentendimento entre trios, mas do retrato de um comportamento que relega mulheres, por mais poderosas que sejam, a um papel secundário. O respeito não pode ser seletivo; ou ele vale para todos ou estaremos apenas perpetuando desigualdades que não combinam com a festa da diversidade e inclusão que o Carnaval deveria representar.
Mín. 21° Máx. 35°
Mín. 22° Máx. 33°
Tempo nubladoMín. 21° Máx. 35°
Parcialmente nublado