Por Hely Beltrão
O grupo Alimentos e bebidas do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a registrar alta em janeiro: 0,96%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na terça-feira (11). Este é o quinto mês consecutivo de avanço nos preços. Aos leitores do Conectado News e ouvintes do Programa Levante a Voz, o economista da Universidade Estadual de Feira de Santana, o professor Antonio Rosevaldo, explica o motivo da alta dos itens mais procurados pelos feirenses nos supermercados.
"Alguns alimentos tem sofrido aumentos sucessivo nos últimos meses, mas se observarmos bem, outros alimentos não sofreram aumento nos últimos meses, é que temos uma tendência a reclamar somente do que subiu, anos atrás, tínhamos o feijão como vilão dos preços, estava bem alto, atualmente está barato e ninguém reclama. A verdade é que os alimentos sofrem pressões cíclicas e o ciclo de produção está cada vez mais se reduzindo, por exemplo o tomate, que é colhido após 4 meses, ao colher, temos três safras durante o ano, se plantarmos bastante, teremos muito sobrando, ou seja, teremos mais vendedores do que compradores, fazendo o preço do tomate cair, quando isso acontece, os produtores resolvem não plantar na próxima safra, em seguida, ocorre uma falta de tomate no mercado, falta mercadoria, muita gente querendo comprar, o preço sobe. O tomate é um dos que mais oscilam porque o ciclo de produção é menor. Quanto à carne bovina, antes era necessário oito anos de engorda de um boi, hoje esse tempo é de aproximadamente 3 anos, porque ocorre a oscilação de preço? Não podemos pegar o preço de um produto e trazer para a política partidária, pois a natureza não é bem assim, quando temos uma seca bem forte, os produtores são obrigados a abater as vacas, quando isso acontece, não nascem bezerros, se não nasce bezerro, o boi não cresce, não engorda e ao ser abatido o preço da carne vai subir, quando os bezerros nascem, tem muita carne no mercado, o preço cai e isso acontece, ou seja, é isso que faz oscilar o preço dos alimentos, as condições climáticas, tudo isso impacta na produção".
Inflação global
"Não diria que a inflação global tem impactado diretamente os preços dos alimentos, existem outros fatores, a crise climática é uma delas, a produção e inserção de novos produtores de alimentos, para se ter uma ideia, atualmente o Vietnã é um dos grandes produtores mundiais de café, quando esta safra de café é atingida por furacões, a produção mundial cai e isso provoca um aumento do preço, a inflação mundial está estabilizada, são poucos os países que têm inflação alta, está tudo dentro do jogo do mercado, na verdade os países exportadores ofertam seus produtos, se tem, vende, se não tem, não vende, quando não vende, quem tem o produto na outra mesa venderá mais caro, o que provoca uma inflação de alimentos".
Incidência do valor do combustível no preço dos alimentos
"O aumento dos combustíveis em um país como o Brasil, incidem no valor da alimentação, eis diferença de países menores, gastam um valor menor com frete da fábrica até o supermercado, países maiores o frete é mais caro e consequente o preço dos alimentos aumenta, o Brasil sofre muito com isso, como as distâncias são enormes, na maioria das vezes o frete é caro e onera os alimentos, na proporção em que se aumenta o preço dos combustíveis, é necessário repassar o preço aos produtos, isso encarece os alimentos, essa commodity, o petróleo, que está em um processo global de aumento, incidindo no valor do diesel. Precisamos ter alternativas de combustível para não ficarmos tão restritos ao petróleo, temos de produzir combustíveis menos poluentes e que não sejam tão dependentes do petróleo, a exemplo do etanol, temos que melhorar nossa tecnologia de etanol para abastecer nossos caminhões e ônibus, com um etanol que consiga que seja econômico para o caminhoneiro e reduza o custo do frete".
Ações que podem ser adotadas pelo governo
"O governo pode retomar uma ação antiga. Utilizando como exemplo o café,que comprava a safra excedente para evitar que o produtor perdesse dinheiro, ele poderia entrar com o estoque regulador e comprar a um preço mínimo o café dos produtores para evitar perdas. Agora que não tem café, porque a produção foi prejudicada por conta da crise climática, o governo colocaria à venda o café que comprou barato no passado e conseguiria regular o mercado, é preciso retornar a operar com estoques reguladores, pois os três últimos governos brasileiros abdicaram completamente desta prática".
Sou contra a redução de impostos dos alimentos
"Pessoalmente sou contra a redução de impostos na produção de alimentos, podem me criticar, mas não existe almoço grátis, se reduzir imposto de um produto, precisaremos aumentar em outro, porque existem as despesas públicas a pagar, despesas estas que no Brasil já foram reduzidas pela metade nos últimos 20 anos, por isso, não precisamos reduzir imposto, porque ao reduzir imposto, hoje o preço do alimento cai, mas os custos operacionais que incidem sobre a produção desse alimento continuam existindo, como resultado, o preço volta a subir novamente, é uma situação momentânea, mas se for permanente, sou contra isso. Sou a favor de não tributar alimentos em hipótese alguma, a produção e a circulação de mercadorias, atualmente 72% da arrecadação tributária federal é produção e circulação, isso é um absurdo, temos que tributar mais acima para quem pode pagar, há pessoa ricas no Brasil que não pagam imposto, e muito pobres, que não tem condição de pagar, que quando compram alimento acabam pagando imposto, temos que transferir, é o ônus tributário do alimento para a riqueza, fazer isso é uma forma de luta política".
O que explica o aumento do preço do ovo?
"Algo que gosto muito é quando ouço a música do carro do ovo, pois é sinal de que o produto está disponível no mercado. De fato nesse momento observamos um aumento no preço do ovo, que está ocorrendo em um período perfeitamente normal,devido a proximidade da Quaresma, as pessoas passam a comprar mais ovos e isso acaba afetando o preço, sem contar que nos últimos meses tivemos uma publicidade muito grande sobre o consumo de ovos como proteína para os praticantes de atividade física, como a moça do Big Brother Brasil consumindo 40 ovos por dia, a juventude aumentou o consumo e quando isso ocorre, temos um deslocamento da demanda, fazendo com que os vendedores e produtores aumentem o preço", concluiu.
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