Combate a dengue em Feira: equipamentos quebrados, sem sacolas e agentes insuficientes, denuncia sindicalista

Foram registrados somente este ano em Feira de Santana, até o dia 20 de fevereiro, 166 casos de dengue , e a morte de uma adolescente de 17 anos na segunda (26). Em entrevista ao Conectado News, o presidente do Sindicato dos Agentes de Endemias de Feira de Santana, Roberto Carvalho, afirmou que a situação do combate a dengue no município é preocupante, pois falta agentes, equipamentos quebrados e a falta de sacolas são alguns dos problemas enfrentados.

"A situação da Dengue no município é muito preocupante, não somente por conta de uma epidemia desse momento, mas, de anos anteriores, é comum dos meses de dezembro a março essas zonas de conflitos de Dengue por causa das altas temperaturas e a questão das chuvas que fará com que acumulem depósitos de água, o ovo, dura mais de 365 dias e começa a proliferação do mosquito, o que também em relação à questão da dengue em Feira, não é só o surto, mas a quantidade de profissionais que não temos para atender a população, equipamentos que o município precisa adquirir para que tenhamos um trabalho eficaz, por que mesmo que quantidade de agentes insuficientes, temos carregado o programa de Dengue nas costas com muito trabalho, mas com a responsabilidade de fazer o trabalho bem feito".

Déficit de agentes

"A informação é que não temos 250 exercendo a função diária de casa em casa, alguns faleceram, outros afastados por problema de saúde ou se aposentaram, mesmo o prefeito fazendo REDA (Regime Especial de Direito Administrativo) desde 2022, não supriu a necessidade do programa de Feira de Santana, há uma defasagem no quantitativo de profissionais, ainda que tenha feito recentemente um decreto para uma seleção pública, o próprio decreto que diz sobre a possibilidade de vagas para agente comunitário de 60 e de endemias 60, é insuficiente para atender a todo o município. Os agentes de endemias de Feira vem carregando esse fardo há muitos anos, em uma outra epidemia denunciamos a mesma situação, parece que virou corriqueiro, os agentes tem que se sacrificar para atender metas, para se ter ideia, como posso contratar um profissional? A lei me diz que, se em Feira tenho 616 mil habitantes, precisaria de um agente para cada mil habitantes, ou seja, 600 agentes, segundo a quantidade de imóveis, onde Feira tem aproximadamente mais de 500 mil, inclusive é um dado em que o município está desatualizado porque no Centro Municipal de Endemias não tem computador, não tem ninguém com esses dados desde o ano passado, há uma defasagem dos dados da quantidade de imóveis no município, então, estou supondo que temos 500 mil imóveis, ou seja, 1 agente para cada mil imóveis, 500 profissionais atuando especificamente no programa de combate a dengue, sem contar com as outras arboviroses".

REDA e recomendação do Ministério Público

"O município está proibido pelo Ministério Público de fazer contratação de agente de endemias, mas infelizmente, a gestão continua descumprindo a recomendação do Ministério Público, recentemente tornamos a notificar o Ministério Público, porque houve uma situação em que alguns agentes foram demitidos por conta da seleção pública ter sido feita em caráter de Reda, na época quando foram contratados, feira não tinha a situação de emergência de dengue. Por que isso? A lei 11.350 do agente de endemias, diz que só podemos fazer parte como servidores públicos através de seleção pública para cargos de provimento efetivo, exceto em caso de epidemias, pode se fazer um contrato, mas por um tempo determinado, na época não existia emergência, nenhum decreto de estado de emergência de dengue ou outra arbovirose para o prefeito fazer isso, pegaram esse pessoal de volta, botaram novamente no campo, fizeram outro Reda, contestamos na 2ª Vara da Fazenda Pública, mas até esta quarta (28) o Juiz Nunisvaldo não deu um parecer sobre essa questão do Reda do município que é ilegal".

Equipamentos

"Nunca estivemos bem equipados, toda vez que buscamos o município, cobramos a farda, a licitação de uma farda leva três anos, a do crachá levou quase quatro anos para sair, temos informação recente, inclusive denunciamos através de ofício ao prefeito Colbert Martins (MDB), que as bombas costais, onde o profissional faz o bloqueio para eliminação do mosquito adulto estão quebradas, os agentes estão se virando, consertam uma bomba hoje, outra amanhã, sendo assim, como controlar e combater o mosquito se o município não nos dá as condições de trabalho, até a sacola tem muito tempo que não compra, fica inviável, dentro de uma questão de epidemia, até mesmo cobrar uma posição dos agentes se não temos as condições necessárias para fazer um bom trabalho. Merecemos o mínimo de respeito e dignidade como servidor para atender a demanda da comunidade, mas o município tem que fazer a parte dele, a dengue não está pior em Feira de Santana  por que os poucos agentes que estão em campo tem sustentado o programa de endemias em Feira de Santana".

Metas

"Não está dando para cumprir, existe as metas que em um ciclo bimestral, temos que fazer no mínimo quatro ciclos em Feira, inclusive não estava nesses quatro ciclos e quando faz, é porque se pede para aumentar a produção a fim de atingir as metas porque quando o município deixa atingir essa meta, corre o risco de perder o recurso federal, que paga os nossos salários. Ano retrasado fomos chamados na Secretaria de Saúde por conta disso, porque estávamos na faixa amarela de perder recursos, os agentes, colaborando mais uma vez, fizeram a sua parte, melhorando o índice, notificou ao Ministério as situações que estamos passando em relação ao quantitativo de agentes para sanar esse problema, o agente faz as suas 25 casas, faz seu trabalho muito bem feito, a comunidade tem a obrigação de receber, pedir a identificação, ver o crachá, se realmente é a pessoa, se você já conhece o agente tudo bem, se não conhecer, peça o crachá de identificação, abra a porta, receba bem, pegue a sua casa, faça uma faxina em seu quintal, vire as garrafas com a boca para baixo, se não serve, jogue no lixo, se tiver pneu descoberto cubra, se não serve bote no lixo, por que a dengue só se evita se a comunidade fizer a sua parte, não jogue lixo em terreno baldio, evite, por que o agente passa em sua casa hoje, mas levará 45 dias para voltar em sua casa, nesse tempo, o mosquito põe os ovos, vem chuva, a água que você joga de qualquer maneira, nasce o mosquito, se prolifera, lhe contamina e aos seus vizinhos", concluiu.

Reportagem: Hely Beltrão