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Polícia Morte

"Uma equipe médica fria e sem preparo", diz mãe de criança que morreu após ter atendimento negado no HEC

Faleceu na sexta (26), segundo a mãe, após ter o atendimento negado no HEC

30/01/2024 12h56 Atualizada há 1 ano
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Redes sociais/ Reprodução
Redes sociais/ Reprodução

Brayan Bastos Barreto, de apenas 1 ano e 3 meses, faleceu na sexta (26) no Hospital Estadual da Criança (HEC) em Feira de Santana. Oficialmente, não há informações a respeito da causa da morte, porém, a mãe da criança, Natália Bastos, relatou em entrevista ao Programa Levante a Voz da Rádio Sociedade News FM, na manhã desta terça (30), que seu filho teve o atendimento inicial negado no HEC por conta de uma norma interna do Hospital, sendo transferido para a UPA Estadual.

"Brayan teve uma febre em casa, passou 24 horas em uso de medicação indicada pela pediatra e não houve melhora dessa febre, atingindo a temperatura por volta de 38,5 a 38.9, isso na quarta (24) à noite e na quinta (25). Na sexta (26) pela manhã, levamos a criança no HEC, para ser atendido e fazer algum exame para investigar essa febre, também apresentava sintomas de náuseas, mas ele estava hidratado, corado, não estava vomitando, ele teve uma crise de vômito em casa e nem estava com diarreia. Fomos diretamente ao HEC, porque ele é apenas um bebê de 1 ano e 3 meses".

Atendimento no HEC

Foto: Luiz Santos

"Passamos pela triagem do Hospital da Criança, quando aferiram a temperatura de Brayan a enfermeira informou que ele estava com 38.4 e que essa temperatura eles não atendiam no HEC, só a partir de 39, insisti, falei com ela, que me disse não adiantar, por se tratar de uma norma interna, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Estadual é parceira e que havia um pediatra disponível para atender, nos encaminharam a UPA que fica ao lado, onde meu filho teve a complicação".

UPA Estadual

"Demos entrada na sala da médica, que não o examinou, isso foi feito pela triagem do Hospital, que constatou a mesma temperatura, a médica atendeu, mas não examinou, apenas fez algumas perguntas, me disse que provavelmente era uma virose e que estaria passando uma medicação e um soro. Fomos à sala da medicação, ao receber a segunda garrafinha de soro, Brayan teve um desmaio, começou a agonizar no meu colo, comecei a pedir ajuda, “gente, tem alguma coisa errada, enfermeiro, tem alguma coisa errada”. Os enfermeiros com muita frieza disseram: “não mãe, está tudo bem, está caindo o soro, não perdeu a veia”. Insisti, afirmando que tinha alguma coisa errada, de repente, a criança desfaleceu em meus braços, imediatamente ficou com a boca roxa, sem respirar, o olho revirou, eu coloquei Brayan na maca e comecei a gritar por socorro. Nesse meio tempo, demorou ainda por volta de um minuto para esse profissional vir com outro para colocar o oxímetro (aparelho com um mecanismo que lembra um pregador de roupa para ser fixado no dedo (ou no lóbulo da orelha), de forma totalmente indolor. A partir da emissão de feixes de luz, ele consegue mensurar o nível de oxigenação no sangue e os batimentos cardíacos), eu mesma comecei a prestar os primeiros socorros na criança, virei o rostinho dele de lado, por conta de uma espuma na boca dele e comecei a fazer a ressuscitação, o enfermeiro veio, colocou o oxímetro no dedo de Brayan e para mim, “olha mãe, tem batimento, ele está respirando”. Eu disse que não,  apos isso, colocaram oxigênio nele e me afastaram dele e colocaram os eletrodos para monitorar, mas em momento algum fizeram ressuscitação, respiração boca a boca, apenas colocaram oxigênio e deixaram monitorando. O profissional de saúde que pegou a veia de Brayan não sei se tinha experiência, me pareceu que não".

Para Natália, apesar da criança ter recebido maior parte do atendimento na UPA Estadual, ela acredita que se tivesse recebido o primeiro atendimento no HEC, a criança teria sobrevivido

"Na UPA, quando a criança passou mal, além da equipe de enfermagem estar desatenta, despreparada e foi desumana, a médica demorou muito para chegar na sala, as mães que estavam comigo se desesperam, a médica chegou andando e com muita frieza, olhou, pegou meu filho no colo e levou para a sala vermelha, quando levaram para a sala vermelha da UPA, toda hora entrava um enfermeiro na sala dizendo assim, “pega um tubo menor, pega não sei o que”, como se lá na sala vermelha não tivesse o material correto e necessário para prestar o atendimento ao meu filho, minha indignação é essa, porque não sei o que foi fizeram com ele, mas quando finalmente transferiram ele para o HEC, depois que o estrago estava feito, o ressuscitaram e me deram a notícia, ao pegar ele no colo, vi que a criança estava ferida e machucada, o nariz dele estava cheio de sangue, atrás do corpinho dele no lençol tinha muito sangue, estava com alguns cortes e arranhões, foi uma cena traumatizante para mim, porque nunca deixei meu filho cair em casa para se cortar e se machucar desse jeito, para pegar meu filho morto nos braços, cheio de sangue".

Demora no transporte da UPA para o HEC 

"A ambulância da UPA levou para o HEC, porém, até achar a chave da ambulância na hora foi uma desorganização. Criança não vai saber explicar o que está sentindo se, tivesse sido atendido ao chegar no HEC, sei que lá tem tudo para atender a criança, o material correto que se usa em um adulto não é o mesmo para uma criança".

Saúde da criança

"Meu filho era acompanhado por pediatra, eram feitos todos os acompanhamentos, peso, recentemente fez exame de sangue, fez todos os exames pré-natais, tudo normal, temos a orientação da médica pediatra, que receitou um remédio caso ocorra febre em casa. Ele não tinha nenhum problema de saúde grave, não tinha falta de ar, não chegou com nada, somente febre, náusea e rejeitando alimento e água, por isso levei ao Hospital, porque tinha medo, sei que criança desidrata rápido, sou uma mãe que tento fazer tudo à risca, porque meu filho foi sonhado, sou portadora de endometriose, passei por cirurgias fiz diversas coisas para conseguir ter essa gravidez, que foi de risco, tentei ao máximo ser a melhor mãe para ele, me informar, correr atrás, mas Deus permitiu que isso acontecesse comigo, mas sei que não foi culpa de Deus".

Boletim de Ocorrência

"Ainda não registrei, porque quando fui na Delegacia do Sobradinho na segunda (29), colocaram alguns empecilhos, disseram que o sistema não estava funcionando e ia demorar, como estava sem me alimentar direito e me informaram que só poderiam me atender pela tarde, vim para casa e ao chegar, passei mal a tarde inteira e hoje pela manhã também, ainda com dificuldade de me alimentar, estava doente semana passada, por isso não consegui fazer, mas vou tentar ver se consigo nesta terça (30), que estou tirando o dia para responder as pessoas que estão entrando em contato, entre rádios e plataformas digitais, porque preciso que esse caso seja divulgado, isso precisa mudar. A criança não sabe falar, precisa ser atendida em um lugar especializado, se não tem estrutura, porque recebeu? Uma médica e uma equipe fria que aparentemente não sabia o que estava fazendo, não sei o que aconteceu, outras mães na sala comigo viram tudo, não estou inventando, estou relatando um trauma, uma coisa terrível que se passou comigo", concluiu.

A direção do Hospital permaneceu em silêncio durante todo o fim de semana. A SESAB (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia) através de nota enviada ao Conectado News, disse lamentar a morte da criança, que abriu sindicância para apurar os fatos e que o "silêncio" do hospital está amparado na lei.

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) lamenta o óbito de Bryan Barreto e imediatamente abriu sindicância para apurar as causas do ocorrido, o que inclui os protocolos de atendimento na UPA Estadual e no Hospital Estadual da Criança, bem como as condutas clínicas. Reiteramos que o serviço social das unidades encontram-se à disposição para quaisquer esclarecimentos aos familiares.

Na oportunidade, informamos que cumprindo determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) não comenta ou fornece informações sobre pacientes da rede de assistência estadual.

Essa medida, que resguarda o paciente e equipe profissional, tem amparo no Código de Ética Médica, Capítulo IX, Artigo 75, em que é vedado "fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente". Ainda no Artigo 73, parágrafo único, a divulgação permanece proibida "mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido".

O respaldo dessa medida de não divulgação também está na Lei de Acesso à Informação (art. 31, & 1º, I da Lei nº 12.527), norma que garante 100 anos de sigilo para informações pessoais relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem.

UPA Estadual Nota de Esclarecimento

Cumprindo determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e suas unidades não comentam casos específicos, preservando a privacidade e ética médica. O respaldo dessa medida também se baseia na Lei de Acesso à Informação, assegurando sigilo por 100 anos para informações pessoais. A direção da UPA Estadual de Feira de Santana lamenta o óbito e está disponível para prestar quaisquer esclarecimentos aos familiares.

Reportagem: Luiz Santos e Hely Beltrão

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Eliel BastosHá 3 meses Feira de Santana. BaOlá, Dia 26 deste mês vai fazer um ano da morte de Brayn Bastos Barreto, Lembro que foi vocês que nos ajudou com uma matéria muito especial sobre meu neto. até o momento nada foi feito, a justiça não se pronuncia sobre o caso. ficaremos muito agradecidos se vocês continuasse falando sobre o assunto.
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