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Carnaval Carnaval 2023

"Carnaval é melhor do que a democracia", diz Daniela Mercury

Carnaval 2023

21/02/2023 18h14 Atualizada há 2 anos
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Créditos da imagem: Fabrício Pioyani/AgNews
Créditos da imagem: Fabrício Pioyani/AgNews

O Carnaval é a festa mais democrática do planeta, onde se vê rico, pobre, preto, branco, brincando juntos. Para a nossa entrevistada, Daniela Mercury, o Carnaval é melhor que a democracia. Daniela fala sobre a emoção do retorno do Carnaval, sobre política e a expectativa de Margareth Menezes no Ministério da Cultura.

"Delicioso, todos gastando sonhos que deixaram guardados nesses dois anos, estávamos precisando nos expressar, estávamos contidos, cheio de ideias, energia, vontade de ver os outros, está sendo um reencontro continuo, uma gratidão imensa, um Carnaval lindo, as pessoas se enfeitaram e se fantasiaram mais na rua, senti as pessoas entregues a vida, que é o mais importante, precisamos continuar nessa vibe, porque o Brasil precisa seguir, carnaval é esse alimento,  a gente guarda a alegria no bolso para ir usando como pó de “pir lim pim pim”, guardando beleza, brilho, colorido, alegria, canção, esperança, amor, convívio, diversidade, gentileza, fofura, dança, depois entramos na vida dura e esquece disso tudo, não pode esquecer, nunca tem que guardar o “carnavalzinho” no bolso".

CN - Muito se falou em democracia nos últimos dois anos, para você, Carnaval é a festa mais democrática do planeta? 

Daniela Mercury - O Carnaval extrapola a democracia que conseguimos efetivar ainda no Brasil, porque ela é melhor do que a democracia, é o sonho de democracia, porque quando temos em uma praça todas as classes sociais, de todas as cores de pele, de todas as origens, juntas, dançando no mesmo plano, com as mesmas oportunidades que é o Carnaval, algo que se espera de uma democracia verdadeira, algo que ainda não conseguimos, ainda temos muito a avançar, o Carnaval também demonstra a desigualdade, os privilégios, o racismo estrutural, machismo, misoginia, está tudo aí, as vezes de uma maneira mais branda, ou de outras maneiras, ficamos mais humanos nesses momentos de carnaval, todo mundo mais gentil, principalmente depois da pandemia, ou as pessoas ficam mais gentis e amorosas ou então elas precisam de muito mais carnavais cotidianamente para poder vencer a dificuldade emocional e obviamente oportunidades de emprego, trabalho tem 60 milhões de pessoas desempregadas no Brasil, não dá para falar em democracia, a maneira como os indígenas Yanomâmis estão sendo tratados, com mais 500 crianças mortas com fome, porque o governo anterior fez esse absurdo, esse genocídio, precisamos vigiar todo dia para fazer da vida um grande Carnaval, para esse sonho continuar, é isso que faço todo dia, toda vez que eu canto traga um pouquinho de sonho e realidade, porque não aguentamos, a realidade é dura, porque se for só na realidade começamos a brigar um com o outro, pandemia foi tensa, estamos aliviando a tensão, o ser humano precisa correr, brincar, dançar, cantar, ser feliz, porque merecemos, com toda as dificuldades, temos que aprender a ser feliz. 

Famosa por ter posições firmes, a cantora diz que o artista não deve ficar em cima do muro e comentou ainda sobre a expectativa da gestão de Margareth Menezes no Ministério da Cultura. 

"Eu não tenho meio termo, penso sempre no que é necessário para a maioria da população ter uma vida digna, não vivo por mim, não faz sentido a minha vida nem a minha arte. A política e a arte estão totalmente associadas, aprendi com Caetano, com Gil, Gal, Chico Buarque, uma luta pela liberdade de expressão, contra a ditadura, sou filha de assistente social, em casa consciência sempre houve, enxergo as pessoas e vejo que elas estão sofrendo, não consigo ser feliz e nem pular carnaval sozinha, nem querendo, não tem graça, quem tentou pular em casa sozinho já era, a vida é assim, se você ficar em casa na sua festinha íntima e o mundo se acabando não dá, temos de nos posicionar, a arte é para o mundo, se é para o mundo, tem que se identificar com o mundo, mas sobre a Cultura, espero que volte ao centro, somos humanos, a cultura está em tudo, não é só a cultura das artes, a cultura é tudo que se produz de todas as áreas de conhecimento, todas as profissões de folclore, cultura popular, as manifestações importantes, precisa ser tudo trabalhado porque isso é uma vocação do Brasil, os brasileiros têm uma cultura diversa, mais do que qualquer outro país que conheço, vejo o Brasil com potencial adormecido, lidam com cultura como se a Cultura precisasse de esmola, não precisamos disso, fiz minha carreira internacional toda com meu próprio dinheiro, pagando todos os impostos, por exemplo, há um monte de desoneração de exportação de produtos, mas para  exportação de cultura não existe, empresas como a EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo) que incentivam a exportação de cultura mas nada acontece nesse sentido, pagamos PIS (Programa de Integração Social), mas para 05 milhões que trabalham na Cultura a grande maioria não tem carteira de trabalho porque não cabe em nossa área, somos quase todos autônomos, então precisa que esses impostos retornem para que possamos encontrar soluções para dar uma aposentadoria decente para todos os mestres de samba, percussionistas, para artistas não precisarem ir para asilos, viverem de favor, depois de prestarem um serviço maravilhoso para o país, artistas como Vivi Ferreira morrerem sem dinheiro, vi Tom Jobim reclamando que era difícil viver, não estamos falando dos artistas pequenos somente, mas da estrutura da cultura brasileira, empobrecida, desrespeitada, precisamos fazer um trabalho de comunicação porque a população pensa que os artistas se aproveitam de dinheiro governamental, e isso não é verdade".

"As pessoas precisam aprender que enquanto a Cultura recebe R$1 bi, outras áreas recebem R$ 2 bilhões, comenta-se que esse ano com a Lei Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo se injetará na Cultura esse ano em torno de R$ 5 bilhões. Porque não se usa todo? Porque não dá tempo, porque está saindo muito atrasado, quatro anos sem receber nada, sem incentivo nenhum e agora que acabou esse governo horrível que censurou a Cultura, está se reorganizando tudo, Margareth está tendo muito trabalho, e quem sabe consigamos usar R$ 4 bilhões enquanto outros setores usam R$ 300 bi de incentivo", finalizou.

Ouça.

Reportagem: Marcelo Fernandes e Hely Beltrão

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