No Brasil existe um número muito grande de mulheres que precisam conciliar as responsabilidades de mãe e a carreira profissional. Em mais uma reportagem especial de Carnaval do Conectado News, Alobêned Airam, ex-vocalista da Banda Mel, responsável por levar a Bahia para o mundo através dos sucessos "Prefixo de Verão", "Baianidade Nagô", "Ladeira do Pelô", "Bateu Saudade", "Na Bahia Tudo é Festa" e "Crença e Fé", conta um pouco sobre sua carreira e como conciliou o lado mãe com o lado artista.
"Estou gravando um DVD captando imagens para o Projeto Já Pintou Verão, dia 10 em Salvador, meu convidado será Ninha, grande gogó de ouro da Bahia, os grandes clássicos do Axé, não só sucessos que gravei na Banda Mel, mas também de outros artistas, como Ivete, Daniela Mercury, Banda Reflexus e outros. O nome do projeto foi baseado na música “Baianidade Nagô”, música que amo, foi um presente da Banda Mel".
Com relação a sua agenda para o Carnaval 2023, Alobêned, se apresentará fora do Estado, mas deixou em aberto uma possibilidade de fazer uma participação no Carnaval de Salvador.
"Mais fora de Salvador, devo fazer o carnaval do Rio Grande do Norte, mas, existe a possibilidade de fazer uma grande surpresa em um dos trios na passagem pela Barra, mas ainda estou aguardando confirmação. É muito gratificante poder levar nosso Axé, nossa música, isso prova que o nosso movimento venceu e cresceu em todo o Brasil", disse.
CN - Assim como Sergynho ex- Pimenta Nativa, você acredita na existência de uma “panela” que impede o surgimento de novos talentos?
Alobêned Airam - Acredito que existe um trabalho bem feito que se pode colocar dentro de um grupo que já existe, quando dizem “panela”, é o grupo de pessoas que estão há anos batalhando para estar naquele lugar, acho justo que continuem sempre nessa batalha, temos que tentar entrar com um trabalho bem feito, com as pessoas certas. O Carnaval da Bahia cresceu muito, estupidamente grande, falaram até na possibilidade de um terceiro circuito, é muita gente, dos antigos, da época que eu nem pensava em cantar, hoje os novos também querem aparecer, estamos no meio da panela. Existe uma galera que está lutando todos os anos, ano passado vim com a Banda Mel, no bairro do Pau Miúdo, o Carnaval dos Pais. Ano retrasado também fiz com a Banda Mel, em Cajazeiras, o que reclamo é que não tive a chance de ter um trio que passasse em um horário bom, onde pudesse mostrar pela TV e para as pessoas que o meu trabalho estava sendo visto e sendo feito com muito amor e carinho, no dia que tiver esse espaço voltarei a fazer.
CN - Essa falta de oportunidades atrapalha?
Alobêned Airam - Sim, atrapalha. As oportunidades existem, já me ofereceram trio, mas saía as 2h da manhã, quero um horário em que possa estar com a TV e Rádios, levando a magia do Carnaval para as pessoas, é o momento que queremos mostrar o nosso trabalho, o Carnaval da Bahia é pro mundo. Existe sim um grupo fechado, mas é lutando que uma hora a gente quebra isso.
CN - A sua expectativa para atuação de Margareth Menezes a frente do Ministério da Cultura?
Alobêned Airam - Espero que ela brilhe, porque se ela brilhar, todo mundo brilhará junto com ela, como costumo dizer: “ela está pegando um saco de cacau nas costas e vai conseguir tirar caroço por caroço e fazer isso tudo virar um chocolate”. Espero que ela faça um bom trabalho e que isso traga para nós, principalmente os baianos, que ela faça uma ótima administração, ela é muito inteligente, talentosa, uma negra maravilhosa.
Alobêned contou como chegou na Banda Mel em 1988, participando do Carnaval com seu irmão Marcionílio Prado, músico ja renomado à época.
"Não é possível falar da minha carreira, sem falar da Banda Mel, porque foi onde comecei minha carreira artística como cantora. Vim para Salvador em 1988 fazer o Carnaval com meu irmão Marcionílio Prado. Eu só tenho alegrias e aprendizado com tudo que vivi até hoje, o que não dá certo em nossas vidas fica de aprendizado, a Banda Mel foi uma grande escola que virou universidade, em 88 vim para o Carnaval de Salvador com Marcionílio, que já tinha saído da Banda Eva e estava na Banda Pique. Em um desses shows de Marcionílio no Clube Espanhol de Salvador, produtores da Banda Mel me viram e me convidaram, fui para a Banda Mel em abril de 89, começando assim a minha vida artística como cantora, mulher, mãe. Quando comecei a cantar, sem saber que estava grávida de dois meses, fui mãe e cantora, tudo ao mesmo tempo, passei o primeiro ano da Banda Mel, o primeiro disco, grávida".
CN - Como foi para você conciliar a parte mãe e parte artista, com uma agenda tão extensa na época?
Alobêned Airam - Foi tudo muito louco, pense numa menina do interior que não tinha maldade, profissionalismo na veia, eu só achava bonito cantar, nunca sonhei em ser artista, cantora de nível internacional, nada disso, o artista da família era meu irmão Marcionílio e eu era fã dele. Fui com meu irmão fazer um coro, ficar de back vocal, já estava bom, ia voltar para casa, para escola e fazer minha faculdade, queria ser veterinária, não pensava em ser artista, quando vieram com a proposta, nem sabia direito que banda era essa, eu era do rock n’ roll, totalmente diferente, o axé que ouvia era do meu irmão. Foi ouvindo o disco Samba, Suor e Cerveja, que tem as músicas dos blocos de Carnaval de Salvador, que soube da existência de Durval Lelis, Ricardo Chaves. Era totalmente fora da casinha, eu era uma estudante em Itabuna que fazia ginástica olímpica, queria me formar em Medicina Veterinária. Sou a caçula de quatro irmãos, Marcionílio é dez anos mais velho que eu, dos outros irmãos um toca violão clássico e minha irmã é diretoria de escola, eu era a novinha 26 anos depois do último filho de minha mãe, eu era aquela menina que vivia dentro de casa que ouvia som, escutava Madona, Michael Jackson, botava as roupas dos super-heróis, mas nunca pensei em ser artista, isso foi um acaso que Deus deu, um presente na minha vida, que já estava enraizado, porque meu pais e meus irmãos eram artistas e eu tinha que ser, não tive para onde correr, cai de paraquedas nesse mundo. Começou aquela rotina de shows, primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo disco, lançamento, televisão, Xuxa, Faustão, Gugu Liberato, depois, viagens internacionais.
CN - Qual a receita do sucesso?
Alobêned Airam - Sempre digo as pessoas o seguinte: Não existe uma mágica, Deus aponta cada um, cada um tem o seu destino, porque senão todos seriam sucesso. Fui para Salvador, somente com a intenção de acompanhar meu irmão, de oba-oba, de cantar no microfone bonitinho, achava engraçado, mas tive a sorte de estar no lugar certo, na hora certa, onde produtores da Banda Mel me acharam interessante, como artista, pessoa, para poder entrar no movimento de samba reggae de Neguinho do Samba, me apaixonei pelos tambores dos blocos afros, porque até então minha cabeça era rock n’ roll, música internacional, Whitney Houston, Mariah Carrey, Tina Turner, estava em outro planeta e de repente cheguei em Salvador e vi aqueles tambores tocando numa quadra, eu participando daquilo, já estava no meio da fila, fui me apaixonando. Eu nunca tive professor de canto, simplesmente fui.
Alobêned Airam finalizou lembrando dos seus sucessos, que foram regravados inúmeras vezes e levaram não somente o seu nome, mas a Bahia para o mundo.
"Acredito que a maioria das pessoas pensam que ser artista é fácil e existe também a coisa do imediatismo, hoje você faz uma música simples e amanhã já mudou. Em minha época uma música durava uma eternidade. Prefixo de Verão foi gravada em 1990, em 1991 Baianidade Nagô, até hoje faz sucesso e com muitas regravações, também a música crença e fé. Essas músicas foram sucesso mundial, que nos levaram ao Japão e me colocou na capa de um disco contendo o nome “o pulo da gata”, através da gravadora Warner Music que distribui o disco em 45 países. Quando chegávamos no Japão o pessoal já sabia cantar “tum tum tum bateu”. Gravei 11 discos com a Banda Mel, saí da Banda Mel para fazer carreira solo, fiz muitos projetos, inclusive o projeto pop rock no Rio de Janeiro e de Axé Music em Salvador. Em 2014, depois do projeto “Alô Som” em Salvador, fui convidada para a comemoração dos 30 anos de Banda Mel, junto com Joca, parceiro que passou mais tempo comigo na Banda Mel, depois fui convidada sozinha para representar todo a Banda Mel. Logo de cara fui para o Faustão, lançar essa carreira linda e sozinha uma grande responsabilidade", concluiu.
Ouça na íntegra em nosso podcast.
Reportagem: Luiz Santos e Hely Beltrão
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