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Juiz crítica sistema judiciário

Em entrevista ao Programa Levante a voz

19/08/2022 18h02 Atualizada há 2 anos
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Luiz Santos
Luiz Santos

Os casos de autoridades dando aquela famosa "carteirada" tem sido cada vez mais recorrentes no Brasil. Segundo informações do site G1, uma mulher, que afirmou ser filha de uma juíza, ameaçou policiais militares para que conseguissem uma vaga para ela estacionar no último sábado (13) em Ubá-MG. Durante  a abordagem ela ainda desafia os militares a prendê-la.

Em entrevista ao Programa Levante a Voz da Rádio Sociedade News FM 102.1, o juiz criminal Antônio Henrique da Silva, lamentou o episódio e disse que as pessoas tem que ser tratadas com respeito e dignidade.

"Só tenho a lamentar, que a "carteirada" no Brasil tenha saído  da esfera de quem tem alguma autoridade e tenha passado para os filhos, onde essa humanidade desumana quer chegar? Porque cada dia que passa descobre-se  mais absurdos, e no final da entrevista ela ainda diz: vou mandar sua foto para ela, em um tom ameaçador. Essa moça se dá ao direito de ameaçar um agente público  no cumprimento do seu dever. Se a mãe dela fizer algo com o policial, será outro absurdo. É por isso que eu digo, que a sociedade tem que perder esse medo de autoridade, a sociedade tem que perder esse medo de autoridades, as pessoas têm medo de juiz, promotor, delegado, deputado, disso, daquilo, a sociedade se comporta como se essas autoridades fossem algo mais do que simples autoridades públicas, são todos servidores públicos. Exercem cargos que podem mandar alguém para a cadeia? Pode, mas pautado na legislação. Doutor, mas se for perseguição, pode acontecer? Pode. Qualquer um pode ser perseguido pelo sistema, por que o sistema vai de encontro a qualquer um que se levantar contra ele, quando essa moça age dessa forma está confiando na mãe e se a mãe faz alguma coisa está confiando na estrutura da qual ela pertence, o respectivo Tribunal de Justiça, que por sua vez confiam nessa estrutura macabra, que vai para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) STF (Supremo Tribunal Federal) e companhia limitada, sempre digo: dependemos de agentes públicos que sejam corretos e pautem sua vida em princípios éticos e morais, não há outra solução para essa sociedade brasileira, em todas as comarcas por onde passei, me comporto com tranquilidade, nunca tive medo da comunidade e nunca quis tivessem medo de mim, pelo contrário, em todas as comarcas pela qual passei, julgava o cidadão, levava a júri, em um dia e no dia seguinte eu estava na feira e se ele fosse absolvido estaria lá com ele, passava por ele na feira livre", disse.

Antônio Henrique durante a entrevista, contou um caso ocorrido com ele, para ressaltar a necessidade de ter respeito para com as pessoas.

"Em um outro caso, uma pessoa que no dia seguinte ao júri foi absolvida e estava foragida há 12 anos foragido de mentira, porque ia na comarca, fazia eventos na cidade e nenhum policial, delegado o prendeu durante 12 anos. O advogado dele me procurou, quando eu cheguei na comarca e me contou a situação. Achei aquilo tão desmoralizante, a pessoa tem um mandado de prisão em aberto 12 anos andar na comarca fazendo festa e não ter um cidadão, uma autoridade com coragem, comprometimento e responsabilidade de dar cumprimento ao mandado de prisão? "Traga ele aqui na minha frente, que eu revogo a decisão que decretou a prisão dele, frente a frente, vou fazer a mão, não vou nem digitar, para ele ver porque estou soltando e na decisão coloquei que era para mim vergonhoso que uma cidade com autoridades policiais, um cidadão, porque era irmão do vereador de Jeremoabo, ligado a um grande chefe político da região, na época a mulher desse chefe político era a prefeita da cidade. O advogado o levou e ele sentado na outra ponta da mesa me escutou dizer porque estava revogando a prisão dele, não revoguei para ele representar depois. Disse ao advogado: só revogo se o senhor o trouxer aqui. Ele me disse: ele é pistoleiro, como é que eu vou trazer esse homem aqui? Então o sr., espere o cumprimento da prisão dele, porque estou lhe dizendo, que revogo se o sr., o trouxer aqui. Ele se apresentou, foi submetido ao júri,  o primeiro foi adiado por que um vigilante informou a uma jurada que um parente dela havia falecido, ela passou mal ao saber  e tive que dissolver o conselho de sentença. No final, ele foi submetido a julgamento e absolvido por quatro votos a três. Cumpriu o papel dele. No dia seguinte, fui tomar café, e lá estava ele na lanchonete, eu simplesmente o cumprimentei, entrei, tomei meu café, sai,  me despedi dele e fui embora. Naquele momento ele era um ex-réu, foi absolvido, a sociedade entendeu que deveria absolver e viu que ele matou mesmo o rapaz que estava atrás do pai, ele deu um tiro com revólver, conseguiu acertar o rapaz atrás do pai e matou. Uma coisa e você responder o processo e ser humilhado, ser destratado pelo Poder Judiciário, Ministério Público e polícia, outra coisa é você ser tratado com respeito com dignidade", afirmou.

Confira a entrevista na íntegra em nosso podcast.

Reportagem: Luiz Santos e Hely Beltrão 

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